23 de mai. de 2010

A SAGA DE UM PÉ QUEBRADO

Há dois meses tropecei na escada e machuquei meu pé, os dedos se torceram de um jeito que pareciam de borracha, doeu pra caramba e inchou na hora. Era uma segunda-feira, eu tinha que viajar pra visitar minha irmã e não dei muita importância, pensei que fosse apenas uma luxação e que logo aquele pão – que antes era meu pé – voltaria ao normal... Ledo engano. Dois dias depois, voltei de Curitiba, e nada do pé melhorar. Fui então ao P.A. Sul, que fica no Itaum. Lá fui atendida por um médico, ele olhou (de longe) meu pé e pediu um raio-x do pãozinho, digo... pezinho. Lá fui eu, fila... fila... fila...
– Heloísa!
– Sou eu!
– Pronto... até que foi rápido, só perdi a manhã de quinta-feira nisso!
Fila... espera... espera... espera... Putz, que fome!
– O “doutor” saiu pra lanchar!
– Quando ele volta?
– Não sei!
– Poxa moça, olha esse bebê aqui, com o queixo aberto, chorando tão sentido que chega a apertar o coração. Ele tá com febre! Não tem como você ir lá dentro ver se o médico vai demorar?
– Não tem como!
– Não?!
– Não tem como. Não vou!
Que descaso... fila... espera... espera...
– Heloísa!
– Sou eu... e aí? Quebrou?
– Nããããããooo... que nada! Isso aí é só diclofenaco e gelo!
– Ufa! Menos mal!
– Fisioterapia?
– Nesse caso não vai adiantar, só vai piorar ficar mexendo aí no seu pé!
Um mês tomando esse tal diclofenaco que os médicos tanto receitam, acompanhado sempre de uma injeção de voltarem doída pra daná, ou uma mais singela de dipirona. Nunca vi curar tanta doença esse tal diclofenaco... deve ser porreta! Mas pra mim não funcionou, pelo contrário, porque além da dor no pé, agora eu tinha dores no estômago.
Enfim, desisti do diclofenaco, mas continuei com as compressas de gelo. De vez em quando desinchava, mas como eu tinha que trabalhar, andar, ficar em pé... logo inchava novamente.
Na última quinta-feira desse mês de abril, tive curso de capacitação no meu trabalho, e resolvi emendar uma palestra muito legal que estava rolando na universidade. A palestra estava muito boa realmente, mas meu pé é que não estava gostando muito. O dia inteiro com calçado fechado, meu pé começou a inchar mais, senti meu coração bater na ponta da cabeça do dedão do meu pé! Uma dor horrorosa... Próxima parada: P.A. Sul!
Chegando lá outro médico me atendeu, não demorou muito, devia ser umas onze e meia da noite. Esse médico me disse que era melhor eu tirar um ultra-som pra ver o que era realmente, se estava há dois meses assim, tinha que ver melhor. Encaminhou meu caso pro Hospital São José, para um ortopedista.
Meia noite, por aí. Cheguei ao Hospital São José, fui encaminhada à sala do “doutor”, ele tinha dado uma saidinha, era pra eu esperar numas cadeiras no corredor. Lá fiquei trocando uma idéia com duas mulheres INTERNADAS NO CORREDOR. Uma estava há três dias e a outra há uma semana ali... INTERNADAS NO CORREDOR do hospital. Bem, apesar da situação lastimável, rimos um bocado.
Uns 10 minutos depois chegou o “doutor”, com o uniforme de uma clínica de ortopedia particular e que tinha até o nomezinho dele bordado no jaleco. Ele abaixou, pegou meu pé...cutucou com o indicador (ou fura bolo) e disse:
– Acho que é tendinite! Vou te receitar esse anti-inflamatório e....
– Parou! Se for diclofenaco não adianta que não vou tomar. Nem perde tempo escrevendo! E o ultra-som? Não vai fazer?
– Não, isso é exame ambulatorial, não tem como fazer... Te dou um atestado de 5 dias e esse outro anti-inflamatório aqui. Que é pra isso mesmo!
Pra isso o que? Ele ACHA que é tendinite, me RECEITA um anti-inflamatório e me dá alta... quase  uma hora da manhã e eu volto pra casa, com o pé inchado e dolorido do mesmo jeito que cheguei! Grande noite!
No dia seguinte, juntei uma grana e fui procurar um ortopedista particular, a mesma clínica inclusive, que estampava o jaleco do ortopedista que me atendeu no Hospital São José na noite anterior.
Cheguei lá, o médico olhou meu pé e pediu um raio-x... lá sim é rápido – também, pelo preço que a gente paga, tem que ser rápido mesmo! Foi rápido também o diagnóstico:
- Tá quebrado... tava quebrado! Agora já calcificou, não tem o que fazer. O que pode ajudar é um anti-inflamatório...
– Ai, nem vem com diclofenaco!
Resumo da ópera: Fiquei dois meses com esse pé quebrado, andando pra cima e pra baixo, trabalhando...maltratando o coitado, sem saber que estava quebrado! Agora estou usando uma tal de sandália de barouk, feia e desconfortável pra caramba. Com dor nos joelhos de tanto mancar, e indignada com essa falta de respeito com a vida humana e com o próximo.
E se eu não tivesse dinheiro pra pagar outro médico mais competente? E se meu pé não calcificasse corretamente? E se fosse com os filhos desses médicos? Ou os filhos das autoridades locais?
O que eu quero é que isso não aconteça mais. Não quero processar ninguém, na verdade não quero me incomodar com advogados e processos intermináveis. Só quero que esses profissionais se conscientizem de que eles estão lidando com vidas, com pessoas que tem sentimentos, que sofrem, que são pais, mães, filhos de alguém... como eles!
Médicos são profissionais que devem amenizar dores, salvar vidas e não aumentar o sofrimento de pessoas que só podem recorrer à saúde pública desse país... que infelizmente sempre foi e vai continuar doente.

10 comentários:

Unknown disse...

TE apoio viu. amei a idéia do blog, e acredito que vai bombar. prima, meus votos positivos de que muitos querem saber o que vc oensa, fala e escreve rs. Mil beijinhos prima.

Aline Caroxinha disse...

ohh parabéns pelo Blog, massa a saga do pé quebrado .. eu ri.. e em questão de saúde os postos de atendimento e hospitais público estão doentes mesmo .. concordo, é fato..
beijo da Caroxa..

Cristiano Nagel disse...

Engraçado, ou eu tive sorte ou vc teve azar... Hà 2 ou 3 anos caí da perna de pau, num evento a noite, fui no outro dia a tarde pro São José, fizeram o Raio X (Descobri que tinha quebrado um ossinho na mão chamado ESCAFÓIDE) me engessaram, fui atendido uma semana depois no ambulatório, fui atendido por um médico de clínica tb(um dos melhores de Joinville - Vladir Staglish) e fiz fisio de boa... É acho q foi azar o seu hauhahuahu bjs bocão... e ve se vem me visitar em Curitiba

Helô disse...

ahuhauhauhua...Pode ser, dei azar de não pegar um médico realmente comprometido com sua profissão! hehehe

Fernanda Joenck disse...

amigaaa!
ameeeeei teu blog, e mais ainda essa tua saga do pé quebrado (digo, do texto viu?haha)!
meu deus, como você escreve bem!talentosa demais, q orgulho de ti!

e atualiza sempre, pq agora virei fã! :)
um beijo e melhoras pro pézinho hein?se cuida!

Alana disse...

Sorte sua que foi "só" o pé, pq o mesmo descaso que se tem um pé ou dedinho se tem com doenças mais graves.
Já passei por isso tbm, uma vez fui picada por um mosquito, minha perna inchou, e o médico do hosp. São José só olhou por cima, receitou um medicamentozinho e pronto.
E parabéns pelo blog!

Suélen disse...

Bom Helô, fiquei mais chocada e indignada com teu caso, pois estou acostumada a ver esse tipo de coisa acontecendo com os "outros", e não com quem a gente gosta ou conhece. Não que a dor e o sofrimento do outro não me importe, mas isso ficou tão corriqueiro que infelizmente muitas vezes passa batido.
O teu caso e o de muitos brasileiros que pagam seus impostos e seguem as leis desse "país" é tratado com descaso absoluto como se a vida humana de quem não tem um carro importado e grana pra pagar um exame ou um consulta é tratado como lixo ou mesmo pessoas à parte da sociedade.
Um pé quebrado por dois meses sendo tratado com diclofenaco, uma mãe com o filho com o queixo aberto esperando sabe-se lá qto tempo até aquela criança ser atendida e parar de sofrer, pessoas internadas nos corredores há semanas, meses e, no final das contas ainda sorriem e conversam para contar sua saga em busca de atendimento para aliviarem suas dores.
Bom, mas se a gente pensa que a coisa é feia só por aqui, nos enaganamos. Uma amiga mora na Flórida e disse que lá p caos é o mesmo, o atendimento livre ao público apresenta falhas graves também (tá, talvez não tanto quanto aqui), mas tem. Então o caso é discutir e parar pra pensar nos valores que são passados para os médicos em formação e os profissionais em geral que lidam com vidas. Hoje o "legal" de fazer medicina é a espectativa de uma mansão e de uns 3 carrões, pelo menos na garagem e a vida hhumana e o juramento no dia da formatura vão para o lixo junto das luvas e utensílios descartáveis dos hospitais.
Indignação, é só o que consigo dizer, e se eu estivesse lá contigo Helô, teria feito uma revolução. Sei que não adiantaria, mas acho que se as pessoas metessem mais a boca, fossem na direção do hospital e dissesse: ó, estou aqui e o médico não quer fazer exames mais detalhados, fossem pras rádios e mostrassem sua indignação como a mãe daquele menino de um ano e pouco que morreu nos braços dela depois de uma enfermeira misturar cloreto de sódio numa medicação que era pra ser misturada com água destilada. Conclusão? Ao final da injeção, o menino endureceu e morreu nos braços da mãe por incompetência de uma enfermeira ou técnica, sei lá, que preferiu não verificar com exatidão a medicação e fez tudo na pressa pra quem sabe tomar um cafezinho ou entrar no msn pra conversar com amigas ou namorado...vai saber...
O teu caso Helô, foi, infelizmente só mais um de muitos que acontecem a cada segundo em que vidas se perdem por desleixo e descriminação com os menos desprovidos.
Estou solidária a ti e espero que essas reinvindicações não parem por aí, pois tu pode não ter grana nem um sobrenome de efeito para levar isso adiante, mas tu tem tua inteligência e tua capacidade de passar isso para todos os teus amigos e assim por diante para que juntos possamos nos mobilizar e tentar reverter pelo menos alguma coisa desse sistema falido que é a saúde pública brasileira.

Um beijo indignado.

Suélen Severo.

Gloria disse...

Guria, que loucura a Saga do pé.
Infelizmente às vezes caímos em mãos de médicos incompetentes e sem o mínimo de respeito pelas pessoas e suas vidas.
Espero que vc se recupere.
beijão

André Luiz disse...

eiii...a história que eu te propus é quente, vai dizer que não???rsrs
daí vc vai ver que vai bombar de comentários...e quanto ao seu pé...só lamento rsrs
bjusssssss

Ana Hostin disse...

:C O que me entristece mais do que o descaso com a saúde, é o descaso com o próximo.
Não se oferece ajuda, não se dá o lugar no ônibus.
O outro não é requisitado, o outro não é enxergado, porque o outro é apenas o outro, e não você!
E é assim que o ser humano, vai pouco a pouco construindo sua ilha. Mal sabe ele, que esta é a sua própria destruição.


Beijos Querida!
Parabéns pelo blog.
Escrever é compartilhar com outras pessoas as nossas histórias, os nossos caminhos. É uma maneira de destruir as celas que nos fecham em nós mesmos.
Dê uma passadinha no meu.