27 de mai. de 2010

"Nem vem que não tem. Nem vem de garfo que hoje é dia de sopa..."


Ontem, assisti ao documentário “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei”, que narra a vida de um dos caras, que na minha opinião é o verdadeiro Rei da Música Popular Brasileira. Que me perdoe as coroas e tiazinhas do meu Brasil, mas o “Rei Roberto Carlos” perto de Wilson Simonal é um Zé Ninguém.
Não estou aqui desmerecendo a contribuição artística e cultural de Roberto Carlos, longe disso. Só estou colocando em questão a falta de memória do povo brasileiro, além da sua estúpida mania de ser manipulada pela mídia. Calma, vou me explicar melhor: No final da década de 1950, surgia no cenário musical brasileiro um cara chamado Wilson Simonal, um homem negro, pobre, ex-cabo do exército, precursor do movimento da “pilantragem” na música, um cara cheio de suingue e dono de uma voz extraordinária, digno de dividir, em um dueto, a música "The Shadow of Your Smile" com ninguém menos que Sarah Vaughan, na extinta TV Tupi [o documentário traz esse momento sublime na íntegra, vale a pena conferir]. Além do seu poder vocal, malemolência rítmica, musicalidade aflorada e de ser um puta multinstrumentista, Simonal também era um ótimo “entertainer”, ou seja, fazia com que o público ficasse em suas mãos, como que hipnotizados por sua voz e carisma. Até o final da década de 1960, ele era “O CARA”, o “REI DA COCADA PRETA” e dos Festivais da época, maestro de um público como o do Festival no Maracanã, com cerca de 30 mil pessoas. Só que, em meados da década de 1970, ele se envolve num quiprocó com a Ditadura, é acusado por seu contador de ser mandante de tortura e informante do DOPS. Assim todos os artistas (ex-colegas de profissão), a mídia e a imprensa o boicotam/massacram, e logo o público que se dizia tão apaixonado por ele, vira as costas para seu ídolo, que cai num ostracismo de dar pena. Isso acarreta uma série de doenças como a depressão e o alcoolismo. De ídolo à pobre coitado, vítima da mídia e de um povo sem memória... E essa falta de memória do seu povo, o castiga até o fim de sua vida. No dia 25 de junho de 2000, morre Simonal, vítima de uma cirrose hepática, conseqüência de anos de bebedeiras para afogar mágoas, ressentimentos e sua memória de que para seu povo ele não mais existia.
Aonde quero chegar com isso? Bem, ele foi acusado de ser ufanista por cantar músicas como a famosa “País Tropical - Pa Tro Pi” (o que era um pecado mortal naquele período), acusado de pertencer à direita - tendo em vista que, quem simplesmente não se posicionasse contra a Ditadura, estava, conseqüentemente do lado dos militares. Tá! E o Roberto Carlos e sua “tchurma de playboys brancos” da Jovem Guarda??? Todos eram totalmente alheios aos movimentos políticos da época e nem por isso foram massacrados pela mídia. Pelo contrário, Roberto Carlos Allheio da Silva...agora é Rei!
Eu reclamo esse trono! Reclamo em nome da música de qualidade, em nome do que é justo... Reclamo em nome de Wilson Simonal. Salve Wilson Simonal... Salve o Rei!

Fica a recomendação para que assistam ao documentário, que é muito bem produzido, estruturado e escudado por “talking heads”, pessoas que sabem o que estão falando: Chico Anysio, Nelson Motta, Tony Tornado, Pelé, entre outros. Além de nos deleitarmos com os vídeos e a voz que nos preenche a alma de Simonal, O Cara!

10 comentários:

Unknown disse...

Definitivamente vc deve agora fazer faculdade de jornalismo, pois é visível o seu talento. Que texto invejável, e que conteúdo fantástico. Ansiosa para as próximas postagens. E sim, está aí a abordagem do preconceito racial que se estende desde essa época até os dias de hoje. Meus parabéns prima ^^

Durengo dengo disse...

Amiga, que delícia de ler!!!! Quero ver esse vídeo!!!
Tu é foda, e é minha amiga hahahah
Adorei, quero mais blá, blá, blás...
TE AMOOOOOOOO

Rodrigo Ribas disse...

Olá meu broto! Parabéns pelo texto, sobretudo pela capacidade que você teve de absorver de forma crítica e consciente a MENSAGEM que essa dura, mas não menos fascinante história nos propõe a contar. Esse documentário é indispensável para todos que apreciam a música, não só como entretenimento, mas como forma de expressão cultural.
Segue então uma frase merecidamente creditada! "Luta negra de mais é lutar pela paz, luta negra demais para sermos iguais" (Wilson Simonal).

Beijos meu amor!

Rodrigo.

Aline Caroxinha disse...

Olha faço das palavras de Sophia as minhas palavras.. ou na linguagem da caroxinha 'UAU' garota.. isso foi muito bom..
vou até postar teu blog no Twitter.. e com certeza assistirei este documentário..
beijos

Alana disse...

Me senti uma tapada agora. Não sabia que ele tinha passado por tudo isso.
Realmente, a música brasileira perdeu muito com a ditatura, e ainda vem perdendo por causa da mídia (e o povo que aceita assim).
Ótimo texto!!

Suélen disse...

AQUI É O PAÍS DO FUTEBOL - WILSON SIMONAL

"Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
Olha o sambão, aqui é o país do futebol
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
Olha o sambão, aqui é o país do futebol
No fundo desse país
Ao longo das avenidas
Nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol
Nesses noventa minutos
De emoção e alegria
Esqueço a casa e o trabalho
A vida fica lá fora
Dinheiro fica lá fora
A cama fica lá fora
Família fica lá fora
A vida fica lá fora
E tudo fica lá fora..."

Amiga Helô, num país onde bundas gigantes e o futebol reinam, é claro que cultura e boa música são coisas fora de moda e artistas como Simonal, Nara Leão, Nelson Nedi, entre outros, são esquecidos pelo público e pela mídia porque o que vale hoje em dia é vender, vender e vender músicas que fiquem rodando na cabeça como que um refrão diabólico e sem muito sentido.
Como tu diz, que me desculpem os fãs do Roberto Carlos, mas falar de amor já está ultrapassado e a sociedade precisa muito mais do que isso. Precisa de politização, informação, cultura. A cada final de ano que vem aquele tal de ESPECIAL ROBERTO CARLOS eu tenho vontade de me jogar da sacada do meu prédio porque é sempre a mesma coisa. Aquela "babação de ovo", a Sandy cantando com aquela vozinha que dói os ouvidos e outras artistas (boas) que só são lembradas nesse evento.
E o que falar de Chico Buarque então? O cara é um gênio!!! Mas ninguém ensina hoje os filhos a ouvir boa música e ler um bom livro. Hoje, a onda é o "Rebolation" e "Bundations" pra lá e pra cá, e esses sim, são os reis. Da cocada preta e vencida.
Salve, salve a música popular brasileira de qualidade e, enquanto pudermos disseminar essa cultura de música boa, passemos aos nossos também.
Se é que a conseguiremos, algum dia, superar a tv e as revistas de mau gosto.

Douglas Poff disse...

Jovem guarda suck´s!!
Sou mais odair josé ^^
Bju helooooo

Unknown disse...

agora que consegui entrar no blog...
aspecto vintage, hãhãhã...
besos!
Msc. Eng. Luiz!

Michelle Jesus disse...

Adorei Helô!

Você tem plena razão. Simonal merece o respeito de ser lembrando com um grande "show man", um cara do povo que realmente deu um duro danado para chegar onde chegou, mas por ironia do destino, como grande parte dos grandes artistas brasileiros, teve um triste e ingrato fim.

Bjo gotosa

Impiedosa disse...

"Descendo a rua da ladeira, só quem viu que pode contar..."

Simonal é super O CARA!
O artista mais injustiçado do Brasil...

Esse doc. é muito maravilhoso, Helô! Super vale a pena assistir!

bjs.