Ontem, assisti ao documentário “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei”, que narra a vida de um dos caras, que na minha opinião é o verdadeiro Rei da Música Popular Brasileira. Que me perdoe as coroas e tiazinhas do meu Brasil, mas o “Rei Roberto Carlos” perto de Wilson Simonal é um Zé Ninguém.
Não estou aqui desmerecendo a contribuição artística e cultural de Roberto Carlos, longe disso. Só estou colocando em questão a falta de memória do povo brasileiro, além da sua estúpida mania de ser manipulada pela mídia. Calma, vou me explicar melhor: No final da década de 1950, surgia no cenário musical brasileiro um cara chamado Wilson Simonal, um homem negro, pobre, ex-cabo do exército, precursor do movimento da “pilantragem” na música, um cara cheio de suingue e dono de uma voz extraordinária, digno de dividir, em um dueto, a música "The Shadow of Your Smile" com ninguém menos que Sarah Vaughan, na extinta TV Tupi [o documentário traz esse momento sublime na íntegra, vale a pena conferir]. Além do seu poder vocal, malemolência rítmica, musicalidade aflorada e de ser um puta multinstrumentista, Simonal também era um ótimo “entertainer”, ou seja, fazia com que o público ficasse em suas mãos, como que hipnotizados por sua voz e carisma. Até o final da década de 1960, ele era “O CARA”, o “REI DA COCADA PRETA” e dos Festivais da época, maestro de um público como o do Festival no Maracanã, com cerca de 30 mil pessoas. Só que, em meados da década de 1970, ele se envolve num quiprocó com a Ditadura, é acusado por seu contador de ser mandante de tortura e informante do DOPS. Assim todos os artistas (ex-colegas de profissão), a mídia e a imprensa o boicotam/massacram, e logo o público que se dizia tão apaixonado por ele, vira as costas para seu ídolo, que cai num ostracismo de dar pena. Isso acarreta uma série de doenças como a depressão e o alcoolismo. De ídolo à pobre coitado, vítima da mídia e de um povo sem memória... E essa falta de memória do seu povo, o castiga até o fim de sua vida. No dia 25 de junho de 2000, morre Simonal, vítima de uma cirrose hepática, conseqüência de anos de bebedeiras para afogar mágoas, ressentimentos e sua memória de que para seu povo ele não mais existia.
Aonde quero chegar com isso? Bem, ele foi acusado de ser ufanista por cantar músicas como a famosa “País Tropical - Pa Tro Pi” (o que era um pecado mortal naquele período), acusado de pertencer à direita - tendo em vista que, quem simplesmente não se posicionasse contra a Ditadura, estava, conseqüentemente do lado dos militares. Tá! E o Roberto Carlos e sua “tchurma de playboys brancos” da Jovem Guarda??? Todos eram totalmente alheios aos movimentos políticos da época e nem por isso foram massacrados pela mídia. Pelo contrário, Roberto Carlos Allheio da Silva...agora é Rei!
Eu reclamo esse trono! Reclamo em nome da música de qualidade, em nome do que é justo... Reclamo em nome de Wilson Simonal. Salve Wilson Simonal... Salve o Rei!
Fica a recomendação para que assistam ao documentário, que é muito bem produzido, estruturado e escudado por “talking heads”, pessoas que sabem o que estão falando: Chico Anysio, Nelson Motta, Tony Tornado, Pelé, entre outros. Além de nos deleitarmos com os vídeos e a voz que nos preenche a alma de Simonal, O Cara!